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Elaborado por: Renata Menezes Rocha.

Além de serem as maiores detentoras da biodiversidade, as florestas tropicais possuem importante papel na luta contra as mudanças climáticas por serem, através das espécies vegetais, grandes estoques de carbono. Mas qual é a contribuição da fauna nessa estocagem de carbono?

Já é sabido que as florestas tropicais são os ecossistemas mais ricos em espécies em todo o planeta. Além disso, essas áreas são grandes depósitos de carbono, armazenando 55% de todo carbono estocado em florestas no mundo, o que representa mais de 460 bilhões de toneladas de carbono. 1

Segundo os dados estatísticos da INDÚSTRIA BRASILEIRA DE ÁRVORES – IBA, as florestas plantadas com fins industrias absorvem 1,69 bilhão de tonelada de CO2 da atmosfera, no processo de fotossíntese. Além disso, o setor estima ainda um estoque de 2,40 bilhões de toneladas de CO2 em suas áreas de preservação e conservação, por meio de Áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reserva Legal (RL) e de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPNs).7

O papel das plantas, principalmente as grandes árvores, está claro na estocagem desse carbono, através da transformação, pela fotossíntese, do CO2 atmosférico em biomassa. Mas como a fauna atua nessa dinâmica?

Mais de 80% de todas as espécies de plantas lenhosas dependem de animais vertebrados para a dispersão de suas sementes. Por isso a ação desses animais é fundamental na renovação das árvores em uma floresta, o que se relaciona diretamente com a capacidade de estocagem de carbono desse ecossistema.1

Em geral, há uma correlação positiva entre tamanho de árvore, frutos, sementes e animais dispersores. Isto é, árvores maiores e com frutos e sementes maiores, necessitam de animais dispersores maiores. Estas espécies de vegetais são as principais responsáveis pela renovação de gás carbônico da floresta e no caso de seu desaparecimento, consequentemente, são as que geram maior impacto no estoque de carbono.1

A estimativa é que o valor deste serviço de dispersão de sementes, prestado por estes grandes animais, esteja entre US$ 5 e US$ 13 trilhões, num cenário onde a tonelada de carbono seja cotada a US$ 5 no mercado de emissões internacional.1 6

Imagem: Filhote de anta, um dos principais

dispersores de sementes nas florestas e, também, um

dos animais ameaçados pela caça predatória.

O problema reside no fato que estes grandes animais, como a anta e o macaco-aranha, fundamentais na dispersão das sementes, são geralmente os principais alvos da caça predatória, em grande parte, ilegal. 1

Diferentes pesquisas indicam que a diminuição da população de animais dispersores (fenômeno chamado de desfaunação, geralmente de causa antrópica) compromete significativamente a capacidade de estoque de carbono em florestas.1

Como consequência desse e de outros fatores, como a fragmentação do habitat e as queimadas, as florestas tropicais estão se tornando grandes “desertos verdes”. A mata continua, mas quase não tem mais animais. Esta condição de empobrecimento da biodiversidade é conhecida como ‘Síndrome da Floresta vazia.3 4 5

 

E qual é o tamanho do impacto da caça na população dos grandes dispersores de semente?

Em várias partes do mundo, animais selvagens servem como principal fonte de proteína e alimentação para populações tradicionais locais. E a ação dessa caça pode ser significativa. O pesquisador Kent (1994), em seu estudo The Empty Forest, estimou o impacto da caça pela população rural da Amazônia Brasileira, chegando ao impressionante número de 14 milhões de mamíferos mortos todos os anos.5

Somam-se a esse número os impactos da caça comercial, em busca de carne, pelagem, couro, penas, entre outros.  O mesmo estudo anterior informa que entre os anos de 1960 e 1969, quase 500.000 peles de capivaras foram exportadas da Amazônia Brasileira.5

É importante notar que a caça de subsistência e comercial ocorrem simultaneamente. E, portanto, seus impactos devem ser somados. Em termos numéricos, uma aproximação do efeito combinado dos dois tipos de caça sugere que cerca de 23 milhões de animais são mortos por ano.5

 

Portanto, é de suma importância a tomada de ações não só contra o desmatamento, mas contra a caça ilegal e de recuperação das populações de espécies de grande dispersores de sementes. Primeiramente, para que haja um retorno do equilíbrio ecológico, que levará à manutenção da biodiversidade vegetal e animal, e, em segundo lugar, para a segurança alimentar de populações locais, assim como a manutenção dos estoques de carbono a longo prazo.

 

Fontes:

1 Carlos A. Peresa, Thaise Emiliob, Juliana Schiettib, Sylvain J. M. Desmoulièrec , and Taal Levid. 2016. Dispersal limitation induces long-term biomass collapse in overhunted Amazonian forests. Disponível em:

http://www.pnas.org/content/113/4/892.full.pdf?sid=a5aacda7-97c1-4183-8ff4-3dec1697a250

2Catarina Chagas.  2016. As antas e o clima. Instituto Ciência Hoje. Link acessado em 29 de janeiro de 2016: http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2015/12/grandes-animais-afetam-estoques-de-carbono-das-florestas

3Herton Escobar. Fauna Invisível, Capítulo 3: O desafio da conservação. Estadão. Link acessado em 29 de janeiro de 2016: http://infograficos.estadao.com.br/public/cidades/fauna-invisivel/o-desafio-da-conservacao.php

4 Pensamento Verde. 2014. Perda da biodiversidade: entenda o que é Floresta Vazia. Link acessado em 29/01/2016: http://www.floratiete.org.br/perda-da-biodiversidade-entenda-o-que-e-floresta-vazia/

5 Kent H. Redford. 1992. The Empty Forest. BioScience, Vol. 42, No. 6 (Jun., 1992), pp. 412-422.

6Claudio Angelo. 2016. Fauna amazônica presta serviço de US$ 5 tri. O Eco. Link acessado em 29 de janeiro de 2016: http://www.oeco.org.br/reportagens/fauna-amazonica-presta-servico-de-us-5-tri/

7Ibá – Indústria Brasileira de Árvores. 2015. Mudanças Climáticas. Link acessado em 01 de fevereiro de 2016: http://iba.org/pt/sustentabilidade/mudancas-climaticas